- Vou ter saudades de ti – disse o Coelho. – Vais ter saudades de mim?
- Não – disse o Ouriço.
- Eu vou ter saudades de ti
– disse o Coelho.
- Já sei – disse o Ouriço -, ainda agora mo disseste.
- És esquecido
– disse o Ouriço.
- Esquecido? – disse o Coelho.
- Se não fosses esquecido – disse o Ouriço -, lembravas-te de por que é que eu não vou ter saudades de ti.
- Lembra-me – disse o Coelho.
- Vou estar a dormir – disse o Ouriço. – Quando estamos a dormir não temos saudades dos amigos.
O Ouriço pegou numa pedra bicuda e foi até à árvore. O Coelho comeu uma
ervinha verde, e depois uma florinha, e depois um trevo.
O Ouriço escreveu uma mensagem na casca.
Querido Coelho
por favor guarda-me
um bocadinhode Inverno
para quando
eu acordar
Saudade
Ouriço
X
Nesse ano o Inverno foi rigoroso. Caiu neve. O lago gelou. O Coelho estava
quentinho na toca, mas tinha fome.
- Isto é que é aborrecido no Inverno – disse o Coelho, enquanto saltava para
fora. – Quanto mais frio está, mais comida eu quero.
Olhou em volta.
- E quanto mais frio está, menos comida encontro.
Não havia erva verde.
Não havia trevos verdes.
O Coelho teve de se contentar com coisas castanhas.
Folhas castanhas.
Casca castanha.
Uma bolota castanha.
Quando o Coelho viu as palavras na árvore, ficou tão surpreendido que deixou cair a bolota.
A bolota rolou.
Juntou neve.
Transformou-se numa bolinha de neve.
Ed. Caminho, 2ª edição, Fevereiro 2003, Texto de Paul Stewart, Ilustrações de Chris Riddell
Ed. Caminho, 2ª edição, Fevereiro 2003, Texto de Paul Stewart, Ilustrações de Chris Riddell
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