quarta-feira, 6 de junho de 2007


- Vou ter saudades de ti – disse o Coelho. – Vais ter saudades de mim?
- Não – disse o Ouriço.

- Eu vou ter saudades de ti

– disse o Coelho.

- Já sei – disse o Ouriço -, ainda agora mo disseste.



- És esquecido

– disse o Ouriço.

- Esquecido? – disse o Coelho.

- Se não fosses esquecido – disse o Ouriço -, lembravas-te de por que é que eu não vou ter saudades de ti.



- Lembra-me – disse o Coelho.

- Vou estar a dormir – disse o Ouriço. – Quando estamos a dormir não temos saudades dos amigos.



O Ouriço pegou numa pedra bicuda e foi até à árvore. O Coelho comeu uma

ervinha verde, e depois uma florinha, e depois um trevo.

O Ouriço escreveu uma mensagem na casca.


Querido Coelho

por favor guarda-me

um bocadinhode Inverno

para quando

eu acordar

Saudade

Ouriço

X


(…)

Nesse ano o Inverno foi rigoroso. Caiu neve. O lago gelou. O Coelho estava

quentinho na toca, mas tinha fome.


- Isto é que é aborrecido no Inverno – disse o Coelho, enquanto saltava para

fora. – Quanto mais frio está, mais comida eu quero.

Olhou em volta.

- E quanto mais frio está, menos comida encontro.


Não havia erva verde.

Não havia trevos verdes.


O Coelho teve de se contentar com coisas castanhas.

Folhas castanhas.

Casca castanha.

Uma bolota castanha.


Quando o Coelho viu as palavras na árvore, ficou tão surpreendido que deixou cair a bolota.

A bolota rolou.

Juntou neve.

Transformou-se numa bolinha de neve.
Ed. Caminho, 2ª edição, Fevereiro 2003, Texto de Paul Stewart, Ilustrações de Chris Riddell

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