sexta-feira, 8 de junho de 2007

PEDAGOGIA WALDORF

CONTOS DE FADAS À LUZ DA PEDAGOGIA WALDORF

Obedecendo aos princípios da pedagogia Waldorf, os contos de fadas apresentados em marionetas na Casa das Fadas são muito mais do que um espectáculo de entretenimento.

O ritmo de desenvolvimento das crianças, segundo esta pedagogia, é sagrado e deve ser respeitado. Se tudo tem um timming, os contos de fadas não fogem à regra. «Como defende Steiner [autor dos pressupostos teóricos em que se baseia a pedagogia Waldorf], os contos de fadas são incontornáveis a partir dos três, quatro anos.

Até essa idade, incidimos nas histórias da natureza, menos elaboradas, com muito ritmo e lenga-lengas», explica Cláudia Valentim. «Mas até aos sete anos, os contos de fadas são muito importantes e é bom que as crianças tenham contacto com eles até essa idade, pelo menos, de preferência até aos 10.

Hoje, há muita tendência para apressar as crianças a crescer. Há pais e educadoras que dizem coisas como "Já és crescido para essas histórias" ou "Essas histórias são para bebés". Isso é um erro crasso», alerta.

Além da importância de crescer sem pressas e livre da competição, a pedagogia Waldorf sublinha o valor dos conteúdos dos contos de fadas, afirmando que eles são o tesouro mais precioso da Humanidade.

«É que estes contos falam de todas as verdades universais, falam-nos individualmente de cada assunto que nos preocupa em cada fase da vida, têm respostas para o que sentimos e podem ligar-nos ao nosso lado espiritual», explica Cláudia Valentim.

«Há respostas a nível de valores, de ética, de construção da personalidade, respostas que vão contribuir para a formação de um ser humano feliz, centrado e com consciência de si próprio. Os contos de fadas são um alimento para a vida», resume.

A criança identifica-se sempre com uma personagem da história, consoante a fase pela qual está a passar, tal como pode associar outras pessoas importantes da sua vida a outras personagens. Para que essa identificação seja mais fácil, as marionetas, segundo a pedagogia Waldorf, não devem ter rosto. Assim, é mais fácil para a criança imaginar.

«De todas as crianças que já assistiram aos nossos espectáculos, não houve nenhuma que alguma vez nos tivesse questionado pelo facto de os bonecos não terem olhos, nem boca, nem nariz», conta Cláudia Valentim. «Para elas, isso é aceite pacificamente. Os bonecos são bonitos, têm roupas coloridas. Os educadores sim, fazem essa questão, faz-lhes falta o rosto.

» Feitas em materiais cem por cento naturais, as marionetas são importantes porque é importante haver imagens às quais associar a história. «Isso é fundamental para as crianças. Tem sempre de haver um suporte de imagem, por isso é que as crianças pedem sempre para ver as ilustrações. Estas imagens não conseguem dar a mesma vivência de um teatro de marionetas, mas claro que também é importante contar estas histórias em casa», defende Cláudia Valentim.

Importante também é escolher uma boa versão (Charles Perrault, Irmãos Grimm, Anderssen) e estar disponível. O que é muito diferente de ler a despachar. «Não se pode ler um conto de fadas com pressa ou cheio de stress. É preciso gostar de o fazer, é preciso estar de alma e coração», alerta Cláudia. «Caso contrário, é preferível ler outro tipo de história», recomenda.

AS CRIANÇAS TÊM DIREITO ÀS VERSÕES ORIGINAIS... E A VIVEREM FELIZES PARA SEMPRE

Existem hoje três "atitudes-tipo" em relação aos contos de fadas: rejeição total, porque falam de um mundo de fantasia e não estimulam a racionalidade; aceitação total com abertura de espírito para que os contos de fadas possam falar às crianças; e uma aceitação contida, com algumas dúvidas sobre os benefícios do seu conteúdo.

São os pais que têm esta atitude mais dúbia que caem na tentação alterar o fio da história. Põem a avozinha dentro do armário, em vez assumir que foi comida pelo lobo, dizem que a rainha mandou o caçador levar a Branca de Neve embora, em vez de a matar, ou que a Gata Borralheira não tinha mãe porque ela foi trabalhar para fora.

Ora, todos os especialistas são unânimes em afirmar que as crianças não devem ser poupadas à violência que existe nestes contos e, mais, que esta violência é estruturante. A vida não é só cor-de-rosa. «A dor e a maldade fazem parte da vida e é bom que a criança se familiarize com essa realidade», defende Cláudia Valentim.

«Quando se omitem partes da história está a privar-se a criança de elementos importantes. A criança também tem o seu lado mau, também acontece ser um bocadinho "mazinha". Se ela sentir que também há nas histórias quem passe por esses processos, quem falhe, ela vai identificar-se», explica.

Claro que tudo isto são processos inconscientes. E os especialistas também são unânimes quanto à necessidade de não ler a história com objectivos didácticos, sublinhando, no final, as "lições" que interessa aos pais passar. As crianças apreendem intuitivamente as mensagens relevantes. Aos pais basta-lhes estar disponíveis e acreditar no poder transformador da história.

"Viver feliz para sempre" não tem de ser um exclusivo dos contos de fadas. A fantasia que se encontra nestas histórias contribui para que as crianças cresçam mais optimistas, sensíveis e confiantes. Afinal, acreditar que se pode viver feliz para sempre é determinante para que também a vida real tenha muitos finais felizes.

CONSELHOS PRECIOSOS PARA CONTADORES DE CONTOS CONVICTOS

- Ler de alma e coração (nunca ler com pressa)

- Associar imagens aos contos

- Nunca deturpar a história, com o intuito de "poupar" a criança

- Nunca pedir à criança para falar do que ouviu ou fazer um desenho sobre a história

- Nunca cair na tentação de esmiuçar a «moral da história». A criança absorve intuitiva e inconscientemente as mensagens relevantes para si,

- Nunca ridicularizar os contos ou as personagens. As fadas, as princesas e até as bruxas merecem todo o respeito!

- Conte o mesmo conto tantas vezes quantas a criança pedir. Segundo a pedagogia Waldort, a mesma história é contada 15 dias seguidos.

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